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Grupo acha planeta extra-solar habitável

Mundo localizado a 20,4 anos-luz de distância pode abrigar vida. Cientistas estimam que ele seja só um pouco maior que a Terra.

Salvador Nogueira Do G1, em São Paulo entre em contato


Concepção artística do planeta habitável ao redor de Gliese 581. (Foto: ESO)
A busca finalmente terminou -- ou, nas palavras dos próprios cientistas, ela acaba de ficar mais interessante. Um grupo europeu de pesquisadores acaba de descobrir um planeta fora do Sistema Solar que é muito parecido com a Terra, com potenciais condições para abrigar vida. Ele é um dos três planetas conhecidos que orbitam uma estrela chamada Gliese 581c. Trata-se de uma estrela das mais comuns, de uma classe conhecida como anã vermelha -- menor e mais fria que o Sol. O planeta mais interno é provavelmente um gigante gasoso, com tamanho similar ao de Netuno, e completa uma órbita em torno da estrela a cada 5,4 dias terrestres. Ele foi descoberto dois anos atrás. As novidades são os outros dois planetas, apresentados num artigo científico submetido ao periódico "Astronomy and Astrophysics". O mais externo completa uma volta a cada 84 dias e tem cerca de oito vezes a massa terrestre. Mas interessante mesmo é o planeta do meio. Ele possui "apenas" cinco vezes a massa da Terra (é o menor já detectado) e tem um ano que dura míseros 13 dias. Embora ele esteja muito mais próximo de Gliese 581 do que a Terra do Sol, como sua estrela é muito menos brilhante, sua órbita cai na chamada Zona de Habitabilidade. É a região em que um planeta não fica nem muito quente, nem muito frio, e pode abrigar água em estado líquido -- principal característica essencial à vida. O grupo liderado por Michel Mayor, do Observatório de Genebra, na Suíça, estima que a temperatura média nesse mundo fique entre 0 e 40 graus Celsius -- não muito diferente da Terra, cuja temperatura média é de 15 graus.


Caça aos dados

O estudo dos planetas fora do Sistema Solar -- já são mais de 200 os conhecidos hoje -- ainda é uma tarefa delicadíssima. Como eles estão muito distantes, é impossível, com as técnicas atuais, visualizar o planeta -- o brilho da estrela-mãe o acaba ofuscando. A estratégia mais comum para detectá-los é observar a estrela ao longo do tempo, tentando detectar, em sua luz, sinais de movimento. A idéia é que, enquanto os planetas giram em torno da estrela, eles a atraem para um lado e para o outro, produzindo um bamboleio estelar. A detecção desse bamboleio permite deduzir que planetas seriam necessários para produzi-lo. Foi essa a técnica usada por Mayor e seus colegas para detectar o primo mais próximo da Terra até hoje. O problema é que os dados, obtidos com um telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul) no Chile, não dizem tudo que há para saber sobre esse astro. Por exemplo, é possível estabelecer a massa, mas o diâmetro (grosso modo, a "largura") do planeta ainda depende do chutômetro. Os cientistas estimam que o astro recém-descoberto tenha cerca de uma vez e meia o diâmetro terrestre (o que daria pouco menos de 20 mil quilômetros).

Dúvidas cruéis

Tudo mais sobre esse planeta permanece em aberto. O que inclui, naturalmente, as características mais essenciais sobre esse mundo. "Nós acreditamos que ele seja um planeta rochoso, parecido com a Terra, com alguns oceanos", disse ao G1, por telefone, Mayor. "Entretanto, alguns modelos sugerem que ele pode ser o que se chama de 'planeta-oceano', com muito mais água do que a Terra." No Sistema Solar, não existe nenhum exemplo de planeta-oceano. "Mas os modelos teóricos mostram que ele poderia existir em outros lugares", explica Mayor. O segredo para isso era que o planeta se formasse mais distante da estrela, onde há mais gelo, e depois migrasse para o interior do sistema. Uma bela porção da massa total criaria um oceano global, com muitos quilômetros de profundidade. Com base nas informações disponíveis, é impossível dizer se o astro recém-descoberto é mais parecido com a Terra ou com um planeta-oceano, mas o fato é que, em ambos os casos, a presença de água líquida estaria garantida. Para a maioria dos cientistas, essa é a pré-condição básica para a evolução da vida.

ESO
Imagem mostra a estrela anã vermelha Gliese 581. (Foto: ESO)

Boas e más notícias

Claro, entre poder ter vida e tê-la vai uma longa distância. E os astrônomos dizem que ainda serão precisas algumas décadas de pesquisa até que os instrumentos sejam capazes de buscar "assinaturas" da vida na luz desses objetos. A conclusão mais eloqüente, entretanto, é que a descoberta mostra evidências de que o Universo deve estar cheio de planetas parecidos com a Terra. A estrela Gliese 581 é uma das cem mais próximas do Sol. Ela está a 20,4 anos-luz de distância -- o que não é tão longe; em termos astronômicos, é logo ali. O fato de encontrarmos vizinhos tão parecidos já nos arredores mostra que eles devem estar em toda parte. Agora é só uma questão de achar.

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1 comentários:

  1. Nossa... achei o blog muito bom, Kiss!
    Acho que seria muita prepotência afirmar que não deve haver vida em outros lugares do universo. Acho que é mais prepotente ainda quem imagina que as supostas civilizações de outros planetas sejam como a humana, que destrói sua fonte de recursos necessários para a vida simplesmente para obedecer um sistema econômico. Acho que, de acordo com as evidências presenciadas na Terra, e com as probabilidades matemáticas, a vida extraterrestre é algo praticamente incontestável.